O tráfico e o consumo de drogas, que são interdependentes, estão entre os mais graves problemas contemporâneos, sob qualquer aspecto que se encare. Ou seja, tanto do ponto de vista policial, quanto do familiar, social, sanitário, comportamental e até mesmo filosófico, são males que devem merecer combate constante, permanente e incansável, e de toda a sociedade. Ninguém pode ficar de fora dessa cruzada.
Trata-se de uma praga, de um flagelo, de um mal que se espalha com enorme rapidez pelo mundo, atingindo, indistintamente, tanto países ricos e poderosos (como os Estados Unidos e a potências da Europa Ocidental), quanto as mais miseráveis e carentes comunidades nacionais do Planeta, que não têm dinheiro sequer para o atendimento das necessidades essenciais à vida, como alimentação, saúde e saneamento básico. Expande-se, dia a dia, apesar dos volumosos recursos despendidos para coibir seu avanço (que ensejam, por sinal, muita corrupção) e de todos os esforços (repressivos e profiláticos) que se fazem para o seu combate. Certamente a estratégia adotada não é a adequada.
Esta, porém, é uma luta que não podemos perder. Mas que, infelizmente, até aqui, estamos perdendo! E nem é preciso dizer o por quê. Vencê-la é um enorme desafio, não somente para o aparato de segurança do Estado, encarregado de barrar a ação dos traficantes, cada vez mais numerosos e ousados, mas de todas as entidades que compõem a sociedade, como a família, as igrejas, as organizações humanitárias e as pessoas inteligentes e de boa vontade, que sabem da importância da solidariedade na convivência (pelo menos civilizada) entre os diversos grupos, de graus culturais e sociais dos mais diversos. É uma responsabilidade geral, de todos, de maneira indistinta, e que não admite omissões. Busca-se, somente, combater o narcotráfico e suas seqüelas apenas apelando-se para a repressão, quando o fundamental seria aliá-la à educação, baseada em eficaz informação.
Destaque-se que ninguém está livre de ser atingido, de uma forma ou de outra, por este problema, que angustia milhões de lares no mundo. O aumento da violência urbana em nosso país, por exemplo, está diretamente relacionado à expansão do narcotráfico, que hoje domina importantes regiões, urbanas e rurais do País (como o "Polígono da Maconha", em Pernambuco), promovendo, ou financiando, ou inspirando assaltos, que se multiplicam, mormente nas grandes cidades, pondo em risco a nossa segurança pessoal e a do nosso patrimônio. Não existe o traficante "bonzinho", embora muitos deles tentem se passar por filantropos e supram (até certo ponto), em comunidades extremamente carentes, como as favelas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Campinas, de Belo Horizonte etc., o papel social que deveria ser desempenhado pelo Estado, mas que este não vem desempenhando.
E se as vendas de drogas estão aumentando, é porque, logicamente, há um número crescente de consumidores. É a inflexível lei da oferta e da procura em ação. Raras são as pessoas, por exemplo, que ainda não passaram pelos riscos e dissabores de serem assaltadas: em suas casas, nas ruas, nos estabelecimentos comerciais, nos bancos, nos ônibus e em qualquer outra parte. Boa parte desses assaltos, destaque-se, é praticada por viciados, que buscam, mediante o crime, obter recursos para sustentar esse caro e destrutivo vício. As drogas, portanto, têm contribuído, sob todas as formas, para tornar nossa vida tensa, insegura e cada vez mais complicada (e menos valorizada).
Por outro lado, seria infantilidade afirmar que, embora não venhamos a nos viciar, não estejamos sujeitos a ter nenhum parente (filho, irmão, neto ou sobrinho, não importa) viciado. Por melhor que seja nossa estrutura familiar e a educação que proporcionemos aos que dependem de nós; por mais unidos que sejamos na família, nunca estaremos livres por completo desse perigo. Não podemos afrouxar e nem abrir a guarda jamais. É preciso permanente, constante e sábia vigilância sobre os nossos filhos. E, sobretudo, é necessário o diálogo. Muito, e incansável, diálogo: franco, amigo, direto e sincero.
O assédio dos narcotraficantes, principalmente aos jovens, ocorre cada vez com maior freqüência e ousadia em todos os lugares que eles freqüentam: nas escolas, nos clubes, nos bares, nas boates etc.. E, na maioria dos casos, os pais somente descobrem que os filhos estão viciados quando já é tarde para evitar. Crianças de apenas oito anos de idade estão sendo cada vez mais assediadas e acabam, fatalmente, por se viciar, sem que ninguém sequer desconfie.
Contraído o vício, começa, para o infeliz que deu esse mau passo (e para a sua família), a dura, a tensa, a dramática e nem sempre bem-sucedida luta para se livrar da droga. Trata-se de um processo sofrido, penoso, traumático e que requer muita, muitíssima, extrema força de vontade do viciado para dar certo. Quem já tentou parar de fumar sabe o quanto é dolorosa a chamada "síndrome de abstinência". No caso das drogas proibidas, como a maconha, o crack, a cocaína, a morfina, a heroína etc.etc.etc., o sofrimento é mil vezes (ou mais) pior! E o índice de sucesso, infelizmente, é extremamente baixo. E, ainda assim, ocorrem inúmeros casos de recaída.
O aliciamento ao vício sofistica-se, explorando, sobretudo, os pontos fracos das crianças e dos adolescentes, vulneráveis à experimentação que os irá viciar com enorme rapidez. Ele se dá, sobretudo, com a exploração da curiosidade, da rebeldia e do desejo dos jovens de mostrar independência em relação aos mais velhos, com o que se tornam, paradoxalmente, não apenas dependentes, mas escravos dos narcóticos e dos narcotraficantes. O chamado “formador de opinião” (se é que alguém, de fato, forme opiniões), ou seja, o jornalista, principalmente aquele que dispõe de uma coluna diária, semanal ou mensal (não importa), tem importante papel a cumprir, nesse aspecto que, a bem da verdade, não vem cumprindo (não, pelo menos, com a constância e a eficiência necessárias). Afinal, jornalismo não se restringe somente, como muitos parecem pensar, à política, à economia, aos esportes e às variedades...